Uma biotecnologia desenvolvida por cientistas brasileiros e israelenses tem dado resultado no combate à dengue em Ortigueira, região central do Paraná. Em um ano, após aplicação de protocolos, observou-se redução de 90% no número de larvas no município, e desde junho do ano passado não há casos de dengue registrados.
A situação contrasta com a realidade em Foz do Iguaçu, onde a dengue manifesta-se com intensidade. No último boletim divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a incidência da doença era de 64,60 casos a cada cem mil habitantes, colocando a cidade entre os índices mais altos do estado. Dados do município indicam que há 3.042 notificações e 199 ocorrências confirmadas no período epidemiológico 2021/2022, iniciado em agosto do ano passado.
O projeto de Ortigueira, denominado Controle Natural de Vetores, é de responsabilidade da Forrest Brasil Tecnologia, em parceria com a empresa Klabin. O trabalho teve início em novembro de 2020 e levou o número de pessoas infectadas no município cair de 120 naquele ano para cinco em 2021, quase 95%, sem registro de mortes. Desde maio do ano passado não há casos confirmados de dengue na cidade.
O método utilizado é baseado na tecnologia TIE – utilização do inseto estéril. Os mosquitos são soltos em massa, e os machos estéreis se acasalam com fêmeas selvagens, fazendo com que elas deixem de procriar e haja redução da infestação e de mosquitos. O estudo, reconhecido pela comunidade científica internacional, foi publicado no Journal of Infectious Diseases, revista médica revisada por pares, editada pela Oxford University Press em nome da Sociedade de Doenças Infecciosas da América, principal referência na área.
Bióloga e diretora-técnica da Forrest Brasil Tecnologia, Lisiane Poncio explica que os mosquitos são esterilizados em laboratório quando estão em fase de larva. Para que a esterilização seja feita, é criada uma colônia a partir de ovos colhidos em campo.
Quando as fêmeas copulam com os machos estéreis, não têm prole e, por isso, há uma redução gradativa da população de mosquitos.
Tecnologia foi desenvolvida por cientistas brasileiros e israelenses
Em Foz do Iguaçu, que historicamente sofre com epidemias de dengue, a metodologia de combate ao mosquito vem mudando. A prefeitura descartou, desde 2020, o uso do fumacê. A decisão foi tomada após uma pesquisa, feita antes e após a aplicação de cinco ciclos, que indicou resultados abaixo do esperado.
Atualmente, o município conta com novas alternativas para reduzir a infestação, tais como a utilização de estações disseminadoras de larvicida. Também prevê a implantação do Projeto Wolbachia, em parceria com o Ministério da Saúde. A wolbachia é uma bactéria que, caso esteja presente no mosquito transmissor, impede que o vírus da dengue, chikungunya e febre amarela se desenvolva dentro dele.
A prefeitura ainda informou, via assessoria de imprensa, que são feitas rotineiramente ações para combater o mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya. As ações, coordenadas pelo Centro de Controle de Zoonoses, refletem em vistorias diárias em imóveis para orientação da população, identificação de casos suspeitos, além da eliminação e tratamento de criadouros do mosquito.
O município tem também o Comitê Municipal de Controle e Prevenção da Dengue, com participação de diversas secretarias, que se reúne mensalmente. As estratégias de ação estabelecidas a partir de indicadores entomológicos (infestação do vetor) e epidemiológicos (incidência de casos) são analisadas semanalmente.
Foz do Iguaçu produz, de modo exclusivo no país, desde 2017, um indicador da forma adulta do mosquito. É o Índice de Positividade de Armadilhas (IPA), feito a partir da leitura de armadilhas previamente instaladas em residências para capturar fêmeas “grávidas” ou aquelas que já se alimentaram de sangue e por isso buscam a armadilha para a postura dos ovos.
Colônia de mosquitos é criada em laboratório a partir de ovos colhidos em campo. Foto: Divulgação Forrest
A captura de fêmeas “grávidas” vivas possibilita a realização da detecção viral em mosquitos, por meio de exames de biologia molecular (pela técnica de qPCR). Por isso, constitui-se um indicador entomovirológico importante, por permitir a intervenção direta em áreas de circulação viral nas quais ainda não tenha havido casos notificados de dengue.