Quantas vezes por semana ou por mês você costuma checar o seu quintal ou as plantas do seu apartamento a procura de água parada?
Fazemos parte da geração que, após os anos 2000, acompanhou um verdadeiro bombardeio de propagandas do Governo Federal, Estadual e Municipal exibidas repetidas vezes no horário nobre, sobre ações necessárias para fazer o controle do mosquito Aedes aegypti.
Você provavelmente lembra de algumas delas.
Primeiro, veio a orientação primordial de não deixar água parada.
Então vieram os métodos para evitar os focos do mosquito: colocar areia no pratinho das plantas; garrafas e potes devem ser virados de cabeça para baixo; limpeza frequente no comedouro dos animais; vizinhos fazendo vigília nos terrenos baldios.
Além da dengue, o mosquito Aedes aegypti transmite doenças como Chikungunya, Zika e febre amarela. Com tantos casos e complicações causados pela doença – incluindo morte – a população se mantém em alerta.
Mas isso nem sempre é suficiente.
É buscando erradicar, ou ao menos reduzir consideravelmente a ameaça causada pela endemia, que pesquisadores da Forrest Brasil Tecnologia desenvolveram uma metodologia de controle com eficácia superior a 90%.
Você sabia que as fêmeas copulam apenas uma única vez durante a vida?
São elas também as responsáveis pela transmissão do vírus a nós, no momento que elas se alimentam de sangue para completar o processo de maturação dos ovos.
Quando ocorre a cópula, uma fêmea pode gerar até 500 ovos que vão resultar em novos mosquitos.
O projeto piloto desenvolvido pela Forrest Brasil Tecnologia, nomeado de Controle Natural de Vetores, consiste em esterilizar o mosquito macho e soltá-lo na natureza.
Se a cópula da fêmea ocorrer com um macho estéril, não há descendentes.
A Forrest é uma empresa de biotecnologia de origem israelense, presente em Israel, Estados Unidos e Brasil, mais precisamente nas cidades de Jacarezinho e Araucária, no Paraná.
“Nós desenvolvemos um método que consiste em esterilizar os mosquitos machos, tendo como resultado mosquitos machos estéreis altamente competitivos e competentes na natureza, que têm vantagem na disputa pela cópula com a fêmea, comparados aos mosquitos machos da natureza”, explica o pesquisador e gerente operacional, Rodrigo de Oliveira.
Para garantir que o mosquito escolhido pela fêmea será o estéril, os pesquisadores soltam, com base em pesquisa de campo prévia, uma quantidade de mosquitos estéreis muito maior do que a estimativa que existe dos mosquitos machos do ambiente.
O projeto inédito escolheu a cidade de Jacarezinho (PR) para comprovar a eficácia do método.
A cidade teve índice de infestação LIRAa (Levantamento de índice de Aedes aegypti) de 16,9% em janeiro de 2018, conforme os dados da vigilância sanitária do município. O índice foi o maior no Paraná e o 25º no Brasil, bem acima do limite de 1% recomendado pelo Ministério da Saúde.
“O campo logístico de Jacarezinho foi escolhido pela alta infestação do mosquito da dengue e pelo fato que no início do desenvolvimento do projeto, não havia nenhum vírus (dengue, Zika, Chikungunya ou febre amarela) potencialmente transmissível pelo mosquito circulante no município”.
A parceria com o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) viabilizou a instalação dos laboratórios na cidade.
“Selecionamos duas áreas da cidade, uma para receber nosso tratamento e outra para agir como controle para fins de comparação. Ambas as áreas semelhantes em vários aspectos: tamanho, número de habitantes, índices de infestação (LIRAa) e histórico de casos de dengue. Cada área, composta por três bairros, foi monitorada e apenas uma recebeu nosso tratamento”.
A área tratada foi composta pelos bairros Aeroporto, Novo Aeroporto e Vila Leão, com índices de infestação de 9,8%, 15% e 11,2% em fevereiro de 2018.
“Após seis meses de soltura, em março de 2019, os índices de infestação registrados pela vigilância sanitária municipal (LIRAa) caíram para 0% nos bairros Aeroporto e Novo Aeroporto. Na Vila Leão, que estava com 11,2%, caiu para 2,4%. O monitoramento da população de campo realizado pela própria empresa registrou reduções superiores a 90% na área tratada”.
No entanto, para que o método tenha eficácia a longo prazo, é necessário que a soltura dos mosquitos estéreis e o trabalho em campo seja realizado por, no mínimo, dois anos em cada área.
Isso porque os ovos dos mosquito da dengue sobrevivem, mesmo sem contato com água, por até 18 meses.
O projeto que está em fase de incubação no Tecpar (Instituto de Tecnologia do Paraná) foi o vencedor do Sebrae Like a Farmer, realizado durante o Show Rural Digital 2020, e mediado por Edson Mackeenzy, eleito o melhor mentor de 2017 pela ABStartups.
O Sebrae Like a Farmer consiste na apresentação de pitches e soluções de startups para jurados e mentores, com direito a 3 minutos de apresentação e 3 minutos de perguntas.
A disputa reuniu startups com soluções que podem ser aliadas do Governo do Estado, nas mais diversas áreas. Além do atestado de eficácia, o projeto Controle Natural de Vetores levou pra casa R$ 1.500.